Dona Amélia estava completamente atordoada com os preparativos da mudança. Sua voz ecoava por toda casa dando orientação aos filhos e ao marido, para o acondicionamento dos objetos. Recomendava que todos obedecessem a ordem das etiquetas fixadas nas caixas. Tudo bem embalado com cuidado para evitar que algo se quebrasse. Na verdade todos estavam trabalhando com alegria e boa vontade pois mudar para uma casa ampla e bem localizada, era tudo que sonhavam. Tudo embalado, vistoria geral e agora era só esperar o caminhão alugado chegar.
Dona Amélia estava inquieta. Alguma coisa estava deixando-a preocupada, mas parando para pensar, não conseguia descobrir o que era. "Bobagem" - pensou ela, "deve ser expectativa da vida nova".
Enfim chegou o caminhão e os homens foram levando as caixas e os móveis até a casa ficar vazia. Mais uma vistoria geral, uma despedida com direito a suspiros pelas lembranças, e lá foram os moradores no seu próprio carro acompanhando a mudança. Quando estavam no meio do caminho, D. Amélia deu um grito: "Parem! Precisamos voltar, esqueci do principal."
A casa que eles moravam ficava em cima de um estabelecimento comercial. A porta de tamanho grande com pé direito alto, tinha um crucifixo preso na parte mais alta, onde ficou por 25 anos - tempo em que a família morou ali. Jamais poderia ser esquecido! Com alívio e muito emocionada, D. Amélia viu o marido subir numa escada emprestada pelo vizinho, retirar com cuidado o crucifixo um pouco empoeirado, mas com certeza pronto para um lugar privilegiado atrás da nova porta.
Tema: Atrás da porta