- Entre e feche a porta!
Cabisbaixo, com um bico quase encostando no queixo, o menino ficou de frente ao pai com cara de poucos amigos.
- Pode desfazer essa cara! Vamos ter uma conversa definitiva. Ou você me escuta ou terei de tomar outra providência.
Estava difícil educar aquele menino. A esposa torcia para que o marido conseguisse mexer com os brios do garoto. Nessas horas não adianta usar o castigo. Não funciona! Pelo contrário, revolta e dá mais raiva. Com muita autoridade mas disposto tocar o coração do filho, o pai pegou um tabuleiro de xadrez e armou as pecinhas para iniciar o jogo.
- Sente-se aqui! Vamos jogar enquanto conversamos. Lembra-se de quando lhe ensinei a jogar?
Aos poucos aquela carranca foi desfazendo e se encaixando no ambiente. Durante as jogadas o pai ia mostrando os caminhos. A cada jogada certa, ele aplaudia. Quando a distração tirava ele do rumo da jogada, o pai colocava sua mão sobre a do filho e fazia o movimento certo a seguir. Esse gesto trouxe a criança para perto. Sentiu-se amparado. Nas entrelinhas, ele ia chamando a atenção do filho para a normalidade. Devagar o menino foi absorvendo seus conselhos. Uma boa estratégia age como um rio que segue seu curso e não volta atrás, sempre em frente, ele vai buscar seu porto seguro, seja no encontro de outras águas ou buscando ser absorvido pelas pedras e colinas sem parar. Enfim tudo é rio. É vida que segue...
Tema: Tudo é rio. (Título emprestado do conto de Carla Madeira)