Sentada no fundo da escada, Júlia chorava copiosamente rodeada das inúmeras cartas que a consolaram por muitos anos e a fizeram suportar a distância que a separou do seu amor. Não se conformava de jeito nenhum com aquele desfecho. Como se resumem as palavras de tantas promessas, tantas juras de amor, tantos planos? Será que foi tudo em vão? Júlia acreditou que um dia tudo se concretizaria. Não deu! A última carta pôs um ponto final em tudo. Relia uma a uma e chorava mais ainda. O peito apertado parecia explodir de tanta decepção. Há muito desconfiava que não podia dar certo. Só que o coração é fingidor. Bate acelerado com alegria e com tristeza. Difícil separar essas emoções.
Recolhidas e ajuntadas, as cartas formaram um bloco denso e como concreto, se materializaram. Ficaram impossibilitadas de se manusear. Só mesmo o fogo para destruí-las e fazer delas a fumaça que se esvaiu no ar até se perderem na distância.
De hoje em diante só amor palpável, pensou ela. Este seria seu pacto com o destino.
Nada de cartas!
Tema: Por trás das cartas.