TRRRIM (ruído de telefone tocando).
- Alô! É da casa da D. Glória?
- Sim, quem deseja?
- Gostaria de marcar uma consulta.
- Pois não. Amanhã às 16 horas, está bom para a senhora?
- Pode marcar!
- Você está ficando louca consultar essa vidente! - Disse a mãe olhando para a filha com reprovação.
- Louca por quê? Vou descobrir de uma vez por todas se meu marido está me enganando.
Na hora marcada lá estava a moça diante da vidente. Uma mulher estranha, toda paramentada com turbante, pulseiras e anéis chamativos, colares de contas coloridas, olhar desconfiado e voz cavernosa. Sem muita determinação a vidente tentou captar o que fez a moça procurá-la. Travou-se um silêncio crucial entre as duas. Nenhuma delas pediu a palavra. Pigarreando a vidente percebeu que a moça seria osso duro de roer. Olhando fixamente na bola de cristal sobre a mesa redonda com uma toalha até os pés, ela resolveu começar a sessão.
- Vejo uma sombra em seu caminho.
- E o que mais? - Indagou impaciente a moça.
Com olhar desconfiado a vidente estava com a nítida impressão que sua carreira encerraria naquele instante.
- Vejo também um vulto de mulher, ou seria de um homem?
Dando um salto da cadeira a moça teve um insight indignada e falou:
- Ora, ora D. Glória vá pentear macacos! Devolva o dinheiro da consulta agora, se não quiser que eu chame a polícia. Estúpida fui eu de não ouvir o conselho da minha mãe. Deixa pra lá minhas desconfianças. O que tiver que ser, será!
Saiu sem perceber que seu pé enroscou na toalha da mesa, trazendo a bola de cristal ao chão, quebrando-a em mil pedacinhos. A sorte estava selada.
Tema: Bola de cristal