Olga era uma caiçara de São Sebastião, litoral norte de São Paulo. Veio para Santos à procura de emprego. Conseguiu trabalhar como doméstica num sobrado geminado cujo quintal possuía uma enorme goiabeira. A casa abrigava uma família de 8 pessoas sendo 4 crianças e 4 adultos, incluindo Olga. Era no porão deste sobrado que as crianças brincavam. As brincadeiras dos tempos idos eram muito diferentes dos dias de hoje. A imaginação corria solta. Quando elas queriam andar de carro, era só juntar 4 cadeiras, 2 atrás e 2 na frente, jogar o lençol por cima e lá estava o carro personificado. Se a brincadeira era sobre família, as meninas com suas bonecas simulavam conversas de comadres e as comidinhas nas panelinhas e pratos de brinquedo eram preenchidos com pedacinhos de frutas e grãos de amendoim. Brincar de adulta era só usar um sapato de salto, um vestido longo e algumas bijuterias e o desfile começava e terminava em aplausos. Riscavam o cimento com giz e lá estava a amarelinha para pular até chegar no céu. Saquinhos de pano recheados de arroz ou areia, faziam as crianças jogar as "cinco Marias". Brincar de roda, lenço atrás, esconde-esconde e subir em árvores completavam as brincadeiras. Por falar em subir em árvores, foi essa a última proeza da doméstica Olga. Subiu na goiabeira para colher as frutas para a criançada, se desequilibrou e caiu. Resultado: gritaria, choradeira e o susto que resultou na perna engessada de Olga que logo a transformou numa lousa improvisada, onde as crianças deixaram seus desenhos carimbados.                      

Tema: A infância da mãe.