Quem é do mar não enjoa-BVIW
Zélia tinha um pedaço de mar e eu continuo tendo o mar inteiro. Não, não sou megalomaníaca, sou nascida e criada numa cidade de praia, onde vivo até hoje, logo não posso excluir a praia da minha vida. Verdade seja dita, trocaria qualquer passeio para estar exposta ao sol, sempre com um livro na mão, até o momento do mergulho, para sentir o frescor da brisa no corpo molhado. Foi-se o tempo que ficaria assim... Hoje esqueci um pouco desta possibilidade. Foi praticamente por imposição - a pandemia. Me acostumei a ficar em casa procurando o que fazer, cansada de esperar por dias melhores, onde todos pudessem sair livremente sem se preocupar com o perigo do vírus espalhado pelo ar. Percebi que junto com esse tempo, envelheci um pouco mais. Falo da percepção natural, aquela que levando a vida leve e solta, nos passa despercebida. Mas quando o pensamento fixa na mesma imagem refletida nos espelhos, achamos ou procuramos imperfeições. Praia, só se for uma bem deserta.
Há muitas maneiras de aproveitar a praia. Seja caminhando a beira mar, ou no calçadão. Seja abrindo a janela que oferece a vista da orla iluminada pelo sol se pondo. Seja tendo o privilégio de morar em frente ao mar, ou até mesmo sentar sob uma árvore frondosa num dos bancos dos jardins que adornam as praias de Santos. O cheiro de maresia é o cartão postal dos que se acostumaram a viver numa cidade praiana. Afinal quem é do mar não enjoa, já dizia Martinho da Vila.
Tema: Nada de praia.
Referência: Eu tinha um pedaço de mar (Zélia Maria Freire)