Sara e Arthur eram casados há mais de vinte anos. Arthur era funcionário público, coveiro para ser mais preciso - ofício que sua esposa não gostava apesar de ser digno e necessário, afinal alguém tem que enterrar os mortos. Não sei se de propósito ou até mesmo como chacota, os amigos do casal gostavam de contar histórias fantasmagóricas. No fim das contas era só pra ver a indignação de Sara. Um dia, cansada dessas ironias dos amigos, Sara resolveu se vingar. Arquitetou uma cena de teatro com alguns alunos da escola de arte que ficava perto da sua casa. Para ser real, tinha que ser a noite. E foi assim que no horário combinado com o elenco, ela chamou os amigos para uma rodada de jogo de buraco, fato este comum entre eles. Enquanto rolava o jogo de cartas, os artistas invadiram a casa anunciando um assalto. Quatro rapazes fortes com capuz ninja, foram pedindo com voz ameaçadora os celulares, dinheiro e dizendo pra não vacilar senão iam todos pra terra dos pés juntos - expressão que os amigos usavam nas brincadeiras com o coveiro. A cena foi surreal e o medo das consequências deixou todos de olhos esbugalhados, com tremedeira diante do perigo.

Ainda bem que num passe de mágica, Sara encerrou a simulação dando uma boa lição de moral na turma. Depois dos artistas devolverem os objetos "roubados", a noite acabou em confraternização e todos brindaram com suco de maracujá, bem apropriado para ocasião.

Tema: Apesar dos perigos.