Todos os dias aquela senhora olhava pela janela da sala o dia amanhecer.Abria o janelão e as cortinas,suspirava profundamente e agradecia a Deus por mais uma noite bem dormida.Ao longe o movimento da rua era intenso.Carros ,motos, bicicletas,todos seguindo felizes e compromissados com seus afazeres.As vezes ,quando chovia e parava,até um arco iris despontava ao longe dando a impressão que o quinto andar do  apartamento ficava bem no meio de uma fazenda.Pouco a pouco via-se uma janela abrir e os moradores davam vida àquela rotina de todos.Roupas no varal,carrinho de feira chegando com compras,carro de ovos apontando lá na esquina anunciando melodicamente que "o carro dos ovos chegou".
Ah! esse carro que tantas vezes a irritou,agora trouxe saudades...

Aquela senhora continua abrindo o janelão da sala todas as manhãs.Só que,agora,não vê mais nada na sua frente a não ser um muro.Um imenso e sufocante muro que apagou como se usa uma borracha,tudo de belo que a natureza lhe oferecia.Até o ar ficou carregado,lúgubre,e todo cenário que se via ao longe ficou no pensamento,nas fotos registradas pelo celular.O por do sol,as gaivotas, e até o bem te vi que pousava na antena do prédio de três andares deixou de aparecer.O muro para aquela senhora passou a ser o de lamentações.Se uma bomba caísse do céu bem ali em cima do muro e as camadas de tijolos virasse um amontoado de cimento e areia,seria o passe de mágica para tudo voltar o que era antes e deixar essa senhora feliz para sempre.


Tema:conto livre.